quinta-feira, 17 de abril de 2008

Poema à dançarina cigana - Luciano Vivacqua




Se uma noite flamenca lhe arrancasse do corpo
a dança poderia rasgar a noite
e cingir os flancos com os vestidos aéreos
da brisa
E se suas mãos velozes me alcançassem o sono
e o meu segredo lhe trespassasse os olhos
jamais do seu rosto volveria o olhar
antes que a tormenta lhe levasse
fantástica sombria

Se o tamborilar dos pés na noite em que a dança
lhe aflige a face reverbera em meu corpo
toda a dor de uma metralhadora
que dispara éporque o mar de espanha
secara em meus olhos e um grito cigano
me amputara a língua

Onde está a música que lhe conduz?

Se em seu dedo se rompesse o círculo
que lhe prende à contradança
se em sua voz se aninhassem
os pássaros de minha infância
Se não fossem o vento e as tardes
caírem noturnas sobre o mar
e os velhos galeões náufragos
digerirem os mortos...
E se suas mãos me lavassem a nuca
no mover dos dedos e das castanholas
se traduzisse o que não sei
em seu corpo e soçobrasse minha imagem
em seu olhar ao som de velhas guitarras
e de cânticos antigos e estranhos
as linhas de minha mão se apagariam
e você fantástica...sombria... surgiria

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